Conversa com Irmão Vicente e pre-eleições
domingo, 27 de setembro de 2009, 19:13
Já se sentia o clima pré-eleição no colégio, passada a apresentação das propostas de cada chapa, a corrida agora era a divulgação e boca-a-boca entre os eleitores.Era sexta-feira, e o Dinaldo havia faltado de novo, provavelmente por mais alguma 'crise asmática', que ele tem toda semana.Marina e Olga tinham sido emcubidas de criar cartazes e posters-de-corredor para a chapa, mas não tinham muito idéia do que fazer, logo, me chamaram pra participar.

Fomos até a biblioteca, ajudei-as na confecção das letras, do corte e da colagem do cartaz e lá desenhei o molde do poster: uma mão segurando um lápis, com o nome do grêmio.Era uma correria sem fim dos integrantes da chapa, nós fazendo os cartazes, a Bárbara e as outras garotas distribuindo as propostas nas salas e, pra variar, o Avolio fazendo propaganda da chapa de um jeito fascista, enquanto o paulo 'obama', de um jeito populista.

Após finalizar os moldes dos posters com a Fernanda, fomos tirar as cópias na biblioteca.Foi muito rápido, e enquanto a moça as tirava, fiquei ouvindo a conversa de um senhor com uma servente, ele falava sobre os tesouros de Tutankamon e sua história de vida.A servente, naturalmente desinteressada, inventava uma desculpa para ir embora.O homem logo notou meu interesse na conversa e me chamou para o balcão, esse era o Irmão Vicente.

A conversa sobre o faraó não durou muito, seja por falta de mais conhecimentos por parte nossa ou porque ele queria anexar a história de Tutankamon com a dele próprio.Começou-me contando de suas ascendências familiares, de sua origem de ciganos árabes, de italianos e de portugueses.Falava-me sobre seus irmãos que eram anões, assim como seu pai, assim como ligava a existência deles com a existência de servos anões ciganos, trabalhando para o faraó.

O pai de Irmão Vicente era filho de um grande latifundiário, tinha um irmão que também era anão, mas o pai dele, avo de Vicente, não lhes dava a devida atenção e carinho, assim como dizia que não iria repassar lhe a herança, o filho, logo após completar a maioridade, viajou pelo brasil.Vindo do paraná, andou pelos mais diversos estados, indo de Pernambuco até São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Acre, estabelecendo-se por fim em Minas Gerais.Encontrou o amor de sua vida em uma dessas andanças, e logo se casaram, tiveram 14 filhos, sendo o primeiro, o Irmão Vicente.A relação entre os dois era uma relação única, pois para o primeiro filho lhe era encubido o cargo de conselheiro do pai, tornando-os muito íntimos;

O discurso de Vicente se tornava cada vez mais inflamado e concreto, recitando sempre a mesma pregação 'A herança é a destruição de uma família'. Relatava-me, principalmente, sobre a segunda família de seu pai, vinda de um segundo casamento, que gerara 4 filhos.A família lhe era considerada maldita, pois além de não ligar para o velho, cobrava-lhe constantemente a herança que nunca fora clamada, embora este, ainda estivesse vivo.Passaram-se de todos os augúrios, desde ameaças de morte até visitas inesperadas de advogados e processos na justiça.Enfim, Vicente aborreceu-se e cedeu as pressões da outra família, deixando-a clamar da herança logo após da morte do pai.

Após a conversa, me falou sobre a importância de um registro familiar, da história de seus parente assim como árvore genealógica e da união que existia entre todos os membros da primeira família, embora numerosa.Terminou dizendo sobre sua função como missionário no colégio e cumprimentando-me com um forte aperto de mão, seguido de um sorriso ligeiramente amarelo.

Aprendi muito com essa conversa, mas principalmente, refleti sobre como deve ser um malogro ter uma história para contar e ninguém para ouvir, o que aconteceria se eu não estivesse lá naquele momento.Envelhecer me parece melancólico nesse sentido, imagine, adquirir toda uma experiência de vida e não poder reparti-la por falta de interesse alheio.

Próximo post falo sobre os fim das eleições, com detalhes.
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Prova da Uerj
segunda-feira, 14 de setembro de 2009, 10:10
Acordei numa manhã de domingo, tomando o café apressado, enquanto minha mãe se arrumava e separava uma garrafa d'água e as chaves do carro.Trocando de roupa, não imaginava o ritual de iniciação que iria fazer parte.

Chegando no campus da praia vermelha, já avistava o Helvio, logo após a Maian, e depois a Raquel, e a Marina, e o Rudá, e o Marco, e... consegui encontrar dos mais próximos amigos aos mais distantes conhecidos, como companheiros de chapa, de curso, de futebol no aterro...
Dez minutos para o início, as conversas paralelas dos grupos iam terminando, cada um ia para uma sala diferente, num prédio diferente.Olho para o papel e vejo : -Escola de Comunicação-sala 111-, chegando na sala, procuro uma cadeira e algum rosto conhecido.Cadeiras sobram, mas nenhum conhecido.Sento.Espero.O silêncio era quase absoluto, variando entre barulho de mexidas no papel e de batidas de caneta contra a mesa.Logo chegou a prova, e o clima de tensão instalou-se no ar, e nas almas dos candidatos.

E lá estava eu, do 2º ano, fazendo a prova por experiência.O tempo corria e com ele, os meus pensamentos paralelos.Pensei muito, do importante ao dispensável, das horas que perdia de sono para realizar esse masoquismo ao fim da união soviética.Fazer aquelas questões ininteligíveis de matemática, química e física era brincar de bingo, onde o prêmio era um que não podia legitimar e as perdas eram mais que esperadas.As questões de humanas e linguagem eram boas, não soavam destrutivas e sim interessantes, com textos sobre arte, submissão, conflitos sociais, desigualdade e globalização.Gastei duas horas para terminar.

Já em casa, chequei o gabarito e comparei notas minhas com a de amigos.Sentia uma incoerência, ou mesmo indignação muito grande.Havia tirado C, acertando 33/60, enquanto amigos do 3º ano tiravam C ou menos.Não entendo, eles passam o ano inteiro estudando pra realizar aquilo e não conseguem êxito.Nesse momento, as peças do quebra-cabeça se encaixaram, não era a falta de habilidade deles e sim o nervosismo que os atrapalhava.
Agora concluo e prego meus ensinamentos:
Viver em regime quase-escravo, como o de vestibulando lhes é prejudicial.Libertai-vos, Embriagai-vos e Relaxai-vos.

e foi o que fiz após a prova, seguido de rpg com amigos.


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Introdução de uma sessão de psicanálise falsificada
sexta-feira, 11 de setembro de 2009, 19:59
Primeiro post.

Antes de mais nada, gostaria muito de me apresentar.Não, não vou postar um 'quem sou eu' do orkut ou esperar sintetizar a minha vida e psiquê num post de blog.
Meu vôo é mais baixo, menos presunçoso e mais contundente.

Este sou eu, o escritor do blog e você é o leitor, cujas minhas palavras lhe serão violentas ou gentis, de acordo com o minha clareza, arte e estado emocional do dia. Não pretendo cair em sentimentalismo inconsequente, como outrora foi o meu antigo livejornal.Não pretendo fazer textos cômicos e nem postar piadas, muito menos fazer crítica social inteligente e bem embasada.
Meu vôo é mais baixo, menos presunçoso e mais contundente.

O maior problema, caro leitor, é que não tenho asas pra voar, muito menos cera de vela, penas de pombo e genialidade para cria-las.O mais próximo que consigo simular de um vôo é uma viagem de avião RJ-SP, 30 min, na classe econômica.Convenhamos, que meu vôo mais baixo é um pulo.Um pulo num playground de um prédio.

O segundo maior problema, é que a minha pretensão literária é inversamente proporcional a minha juventude energética e ilógica, gerando assim um produto muito bizarro, levemente cáustico, chamado de scarecrow-world.blogspot.

O terceiro e último problema, é que à medida que a indignação (e a testosterona) aumentam no corpo, a lógica sai de controle,logo dois pedaços de bolo de chocolate mais duas porções de suco de laranja é igual a um adolescente ansioso com crise de insônia.

Agora vamos juntar tudo, misturar e concluir.
Esse blog é um segmento anexado da minha cabeça, onde meus pensamentos de cunho literário são escarrados, para a sua mais que apetitosa degustação.

Aproveite sem moderação.Se ler, não vomite.
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